– Minha filha, tu escreveste “gozou” 3 vezes no teu livro. É feio para uma mocinha.
– Mas foi no bom sentido, Vó.
– Minha filha, tu escreveste “gozou” 3 vezes no teu livro. É feio para uma mocinha.
– Mas foi no bom sentido, Vó.
– Sabe o que mais me irrita, o que me deixa puta?
– Que?
– Deus.
– Como assim, Deus?
– Filho da puta.
– Cara. Filho da puta?
– Tanta hora pra fumar maconha e ele fuma bem quando tá escrevendo o roteiro da minha vida.
– Humm, cordeiro com carré de hortelã.
– Que é carré?
– Tipo um molho.
– Que nome estranho para molho.
– Mas não é molho, molho, é carré.
– Como vem?
– Líquido, mas com pedacinhos de hortelã.
– Parece bom.
– Quer?
– Não.
– Porque?
– Não como cordeiro.
– Melhor carne do mundo.
– De um bichinho que morre chorando.
– Mentira? Sério?
– Ah, não sei se morre chorando mas não parece? Hein?
– Que desagradável dizer isso.
– Me desculpe. Acho que tô um pouco bêbada.
– Você come lula.
– E dai?
– Lula é um bicho que morre melhor que cordeiro?
– Claro que sim.
– hahahaha
– Sério. Lula é um bicho mau.
– E cordeiro não?
– Cordeiro é bom.
– Vaca?
– Mau.
– Boi?
– Mau.
– Pato?
– Bom.
– Meu Deus, agradeço a graça alcançada.
– Que?
– Ser gay.
– Que tem a ver com a conversa?
– Não corro o risco.
– De que?
– De me apaixonar por você e ter que ter este tipo de conversa todo dia.
“Escritores são seres muito, muito cruéis. Estão sempre matando a vida, a procura de histórias.” Caio F. Abreu.
– Como estão as coisas ai?
– Maravilhosas.
– Que palavra é esta?
– Significa que tá tudo bem.
– Mas tu nunca usa.
– Eu sei.
– Tem homem na parada?
– Tem.
– Sabia. Como é?
– Deve ter uns 19 anos. Gato, gato, gato.
– Você ta com crise de identidade ou algo do tipo né?
– Por?
– Periguete aos 30.
– Uma hora eu tinha que ser periguete. Namorei sequencialmente um único cara dos 17 aos 30.
– Um barbudo depressivo. Cara. Não dá. Ou uma coisa ou outra. Ou você é barbudo e gente boa. Ou um puta gostoso maravilhoso, depilado e depressivo.
– Faz sentido.
– Sempre faço. Mas e ai, e o xóvem?
– Me quer.
– Como tu sabe?
– Porque me deu um kit kat. Não sei como são os sinais de “te quero” para a juventude. Mas pra mim, kitkat é quase casamento.
* novamente participação de Livia Lira. Ela tem msn. E tá na pista pra negócio.
Cena 1:
– Este centro espírita é meio estranho.
– A ideia foi tua.
– Você viu que naquela salinha dá pra conversar com espírios?
– Conversar ou ouvir?
– Não sei.
– Ih, chegou tua vez.
Cena 2:
– Vamos embora?
– Mas já?
– Levanta e vamos embora?
– Mas eu sou a próxima.
– Vamos embora pelo amor de Deus.
– O que aconteceu? Você tá com medo? Te bateram?
– O espírito veio conversar.
– E te deu medo? E te bateu?
– Pior.
– O que pode ser pior do que ter medo ou apanhar de um espírito?
– Era uma pessoa legal.
– E dai?
– Dai disse “ o que você precisa, minha filha”?
– E dai?
– Dai eu, com o meu senso apurado de dar gafe na hora certa disse: “não quero nada além de saúde, tô viva e do resto corro atrás.”
– Não entendi.
– Eu contei vantagem. Contei vantagem em cima de um morto. Disse: tô viva. Tipo: eu tô viva, cê tá morto.
– É mesmo.
– Tô mal.
– Já posso rir?
* participacão de Livia Lira, que sabe que a vida é surreal.
– Boa a comida aqui.
– Aqui é bom, Tem várias minas e com dez carimbos tu ganha uma refeição de graça.
– Cara, olha ali.
– O que?
– Aquela mina ali. Gata. Não para de olhar pra você.
– Qual?
– Aquela morena da esquerda. Não olha agora. Não olha.
– ….
– Iiiiiiii, ela abanou. Tá na tua, vai lá e levanta teu troféu.
– Não tô muito afim.
– Como assim “não tô muito afim”?
– Não posso chegar na mina hoje.
– Qual teu problema? Tá com dor de barriga ou te guardando para a cirurgia de troca de sexo?
– Palhaço. Não é isso, é que…
– O que, meu?
– É… que li meu horóscopo hoje no jornal e dizia que não é um bom dia para relacionamentos.
– Tu tá falando sério?
– Tô.
– Não tô acreditando nisso. Não tô acreditando nisso. Eu vou lá falá com essa gata.
– Porra. Tu é muito cético. Existem mais coisas no universo além de mim e de ti.
– Véio, na boa, cala a boca. Vou ali. A mina não pára de olhar.
– ………..
– Taí. Telefone e e-mail. Vanessa, arquiteta e solteira.
– Porra, cara. A mina tava se vazando pra mim.
– Ela até perguntou por ti. Mas te achô muito gay.
– Só porque não fui até lá?
– Não. Por acreditar em horóscopo de jornal.
Colaboracion: Felipe Drummond, um conspirador.
– Coloca a venda nos olhos.
– Tá frio aqui.
– Arruma o lençol junto ao corpo, como se estivesse dormindo de verdade.
– Com esta merda no meu olho vou acabar dormindo mesmo.
– Durma.
– Até parece.
– Assim está bem. É uma imagem muito bonita. Holga vai gostar.
– Quem é Holga?
– Minha máquina.
– Quem deu este nome?
– A fábrica.
– Mentira.
– Sério. Holga, uma maquininha russa, tosca, véia, mas que vê imagens como esta.
– Como escreve?
– Com h.
– No começo?
– Sim.
– Porque mesmo tô de novo posando?
– Porque fizemos uma aposta, você perdeu.
– Muito escroto cobrar aposta.
– Se eu perdesse você ia morar de graça no meu apartamento.
– Eu não ia cobrar.
– Ia.
– Não ia.
– Mas eu ia pagar de qualquer jeito.
– Até parece.
– Cala a boquinha formato coração, por favor? Tô concentrado.
– Na minha bunda.
– Shhh.
– Se você não fosse tão branca esta podia ser uma sessão de fotos da Leila Diniz.
– Cafuné eu quero até de macaco.
– Que?
– Uma frase que ela dizia e que gosto.
– É boa.
– Está bonito?
– Muito bonito. E pelo tanto que você se mexe, até que consigo fotografar uma e outra coisa sem borrar.
– Já tô sem ver nada quer que eu fique parada?
– Na posição da foto, quero.
– Vai-te a merda.
– Sempre educada.
– Posso sentar?
– Minha última pose do filme.
– Sentei.
– Você me dá medo.
– Porque?
– Porque não sabe quem é.
– Sei muito.
– Não sabe. E, se Deus existe, nunca vai saber.
– Homem só chora no banho, de porta fechada.
– Quem disse?
– Todo mundo sabe?
– Como uma regra?
– Como uma regra.
– Seguida por heterosexuais ortodoxos e praticantes ou por todos?
– Todos. Quase.
– E isso?
– O que?
– Não é uma lágrima?
– Mas a gente tá assistindo filme.
– E dai?
– Dai pode.
– Faz uma música pra mim?
– Já fizeram.
– Nunca.
– Claro que fizeram. Na minha opinião, metade das músicas deste mundo foram feitas pra ti.
– É uma mentira canalha. Mas que quase me convence que sou capaz de te amar.